Não sei quando
comecei a pensar no Natal de maneira diferente de quando era criança,
quando minha maior alegria era correr até minha mãe e insistir que
tirasse as luzinhas coloridas guardadas em uma sacolinha de supermercado
em cima do guarda-roupa, para juntos pendurá-las na bananeira que havia
no quintal. O ritual era simples e improvisado e acabava tão logo
havia começado. Depois era só esperar anoitecer para ligá-las. E como eu
ficava feliz quando chegava o momento, era o anoitecer mais esperado do
ano e o mais demorado.
Todos ali esperando o último raio de
sol nos abandonar por completo para podermos acender as luzes coloridas.
Comendo doce de banana, pão de milho, pipoca e chocolate. Bebendo suco e
refrigerante e os adultos champanhe e vinho branco que ganharam em suas
cestas básicas. Quando o interruptor era pressionado, uma sensação
indizível corria pelos olhos de meus primos e tios. Uma alegria sem nome
surgia ao vermos o formato de asas de anjo que o pisca-pisca fazia com a
sombra na parede.
Essa é a última lembrança de um natal que
realmente esperei. Não sei quantos anos se repetiu e muito menos quando
paramos de dar vida ao pequeno pé de banana.
Creio que minha
visão de natal atenuou-se uns poucos anos mais tarde, em uma manhã,
quando esperava ansioso, pelo tão falado e famoso Papai Noel. Ele viria
com seu trenó lá do longe no polo norte e me traria presentes se eu me
comportasse bem. (o que me fez pensar que ele me vigiava, já não bastava
Jesus me olhando, Noel também tinha de me vigiar? Quando aprontava
imaginava os dois conversando: “Filipe não merece presente”). Mas o que
apareceu em minha rua foi um velho gordo, com sua roupa vermelha, uma
longa barba cinzenta e mal lavada e com os dentes amarelos. Vinha num
carro barulhento, buzinando e jogando balas e gritando seu bordão. Algo
mais parecido com as propagandas da Coca-Cola ou as decorações dos
shoppings, uma coisa bem diferente do que imaginava das lendas de São
Nicolau que minha avó contava no mesmo quintal que as luzes e as
bananeiras nos abraçavam com as asas de anjo.
Não que eu tenha
me decepcionado com o que vi, mas é que os contos de minha avó eram bem
mais interessantes, com bem menos neve (nenhuma) ou brinquedos
industrializados. Quando ganhava um carrinho de alumínio que meu
padrinho fazia, logo pensava que foi São Nicolau quem o havia ensinado.
Minha infância foi muito importante para desenvolvimentos de minha
crença e infelizmente o que cresceu comigo foi a visão de um Papai Noel
cocacolizado e totalmente ignorante ao motivo de sua própria existência.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
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4 Diga lá::
muito legal o texto
natal e suas lembranças...
feliz natal...
Suas palavras me emocionaram, esse lance da espera para as luzinhas se acederem, sinto o mesmo, a magia que eu sentia nisso, e principalmente em acordar pela manhã e olhar embaixo da cama para ver se eu tinha merecido o presente do papai noel, e as festas com a família todos unidos. Rápido tudo isso virou apenas lembranças, nostálgicas. Hoje o natal tem outra cara para mim, uma banalização, uma festa ao consumismo e o esbanjar. As crianças estão longe de sentir essa alegria de tirar as luzinhas da sacola e pendurá-las na casa, na árvore, enfim...
Tudo com banana é mais gostoso :3
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